tag:blogger.com,1999:blog-2920456696937513232024-03-14T04:54:22.402+00:00O Governo dos Mortos"Tradition refuses to submit to the small and arrogant oligarchy of those who merely happen to be walking about." G.K. ChestertonO Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.comBlogger6125tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-56051702876096028712014-01-23T10:28:00.001+00:002014-01-23T10:28:15.065+00:00A Narrativa Comunitária Pós-Moderna da Frente Nacional de Marine Le Pen
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Vejo com muita tristeza a forma como a direita portuguesa
que não provinda do MFA-Partidos se congratula com os triunfos da FN de Marine
Le Pen, sobretudo porque à dita senhora não se conhece até ao momento reflexão
coerente ou sequer uma leve abordagem a algo mais profundo do que os outros
partidos “catch all”. Marine Le Pen é o exemplo acabado de um floreado linguístico
comunitário que nada significa, nada representa ou apresenta. As vagas
referências patrióticas de Le Pen só podem ser entendidas com um significante:
uma massa unida por normas convencionais de convivência, o elemento
constituinte de uma democracia directa, uma comunidade desprovida de Deus.
Rousseau, Rousseau e mais Rousseau.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A retórica de Marine Le Pen é infantil, porque tenta colar
uma visão vazia à opinião popular. O mesmo argumento que utiliza a favor do
aborto, utiliza contra a eutanásia. Porquê? As sondagens a política democrática
de massas têm destas coisas. No meio de toda uma retórica nebulosa, porque
vazia de argumentos, sobrevivem apenas um conjunto de elementos liberais
contemporâneos, nomeadamente a ideia de que na sociedade francesa e seus
pressupostos modernos seculares existe um guia para toda a ordenação da vida
política. O secularismo serve para manter o Islão aparte, mas também para
sustentar a ideia de que a política sobrevive sem forma religiosa. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não será necessário acrescentar que o secularismo é a forma
religiosa máxima do liberalismo contemporâneo. Nem que quando por Nação se
entende “povo”, não se está a tratar de nacionalismo, mas de algo que é no
presente tido por insulto. E de algo que tem intenções localizáveis junto do
socialismo e comunismo.</span></div>
O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-12458042756829991472013-07-07T00:45:00.000+01:002013-07-07T00:45:21.426+01:00Capacidade Eleitoral<em>"The best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter."</em> Winston Churchill<br />
<br />Quem duvida pode ir consultar o amontoado de páginas de comentários online dos jornais portugueses. Hordas de ignorantes, munidos de um completo desrespeito por qualquer norma gramatical e por qualquer conhecimento razoável sobre os assuntos, peroram eternamente sobre assuntos que não valeriam trinta segundos da vida do mais desprezível dos seres.<br />Um sistema que consegue fazer acreditar que estas discussões tem qualquer valor exterior às mesmas é uma mentira poderosa.O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-52491609650238054602013-06-04T20:52:00.000+01:002013-06-04T20:52:50.579+01:00Posição Demissionária<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Parece que a <a href="http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?tpl=&id=95610#.UZujp2HJiJ0.facebook">Conferência Episcopal Portuguesa convidou Jaime Gama, António Barreto e João Salgueiro</a> para palestrar sobre Doutrina Social da Igreja. Creio ser uma boa oportunidade e que outras instituições deveriam seguir. Fernando Ulrich e Ricardo Salgado fariam uma mesa-redonda na Festa do Avante sobre “A actualidade da distribuição marxista de mais-valias”, o Senhor Dom Duarte faria o balanço do glorioso centenário republicano português e Quim Barreiros seria o palestrante de honra nas comemorações do aniversário de Domingos Bomtempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Será uma ocasião para ouvir, finalmente, o que os nossos políticos têm a dizer acima das banalidades sobre as origens cristãs do conceito de dignidade humana. Ou então, como na maior parte dos manuais de direito, vamos ouvir repetido o mantra do carácter soberano da política e do direito, para depois perceber que essa independência é apenas uma desculpa para uma secularização que relativiza o significado dos conceitos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ou isso, ou toda esta conversa de ouvir a sociedade e a política é só a desculpa da Igreja Portuguesa para não ter posição (que não seja de joelhos) perante os poderes que existem neste país.</span></div>
O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-49116826369909357372013-05-31T21:08:00.000+01:002013-05-31T21:09:55.540+01:00O Estranho Jusnaturalismo do Sucedâneo Neoconservador<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Com tanta boa vontade que tenho, hoje em dia, de encontrar réstias de esperança nos locais mais improváveis, foi com algum entusiasmo que tresli <a href="http://expresso.sapo.pt/um-conservador-nao-olha-para-tras-olha-para-cima=f810388">este texto do Henrique Raposo</a> sobre a forma como o Conservadorismo ou radica em concepções mais profundas do cosmos, ou nada tem a dizer sobre o Homem. É fácil perceber o meu entusiasmo. Depois de ler páginas e páginas de artigos absurdos e contraditórios da lavra do rapaz (o Pasquim está cheio dos meus esgares de dor a este respeito), a possibilidade de haver um articulista aceite pelas nações civilizadas, com mais ou menos a minha idade, capaz de perceber que todas as ideias estão ancoradas em princípios metafísicos, dar-me-ia uma sensação de companhia e de esperança que há muito se extinguiu. Contudo, assim que me detive no que está escrito no texto, a esperança de um Henrique Raposo desperto para as subtilezas da filosofia política, apagou-se. É fácil ver porquê.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">HR apresenta duas versões para o que pode ser o Conservadorismo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Uma, que tem base historicista e que fecha o “dever ser” no conjunto de tradições sociais e comunitárias do grupo, sobre a qual a tradição é inquestionável, mas que, ao bom estilo da neutralidade moderna, é incapaz de encontrar nessa mesma tradição um valor cogente face a todas as outras. Esta forma, como já escrevi a propósito da primeira fase do pensamento do António Sardinha (noutros carnavais), é eminentemente moderna e pode ser encontrada em autores do idealismo alemão, em Eliot, em Oakeshott e em pilhas dos seus sucedâneos não tão bem sucedidos, tão anglo-saxónicos como os demais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Outra, o jusnaturalismo, em que Burke se funda para defender os princípios inalienáveis do Direito Natural. Esta concepção significa que o que há a conservar é uma concepção de justiça que se encontra acima do tempo. Até aqui a coisa vai surpreendentemente bem, à excepção do disparate evidente de deixar entender que o idealismo alemão e o reacionarismo francês são um reacionarismo e um vitalismo. E é por aí que se pode medir o tamanho do equívoco do HR. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Nessa massa informe que HR entende por reacionarismo francês, há um conjunto de autores que são jusnaturalistas clássicos. E o único que não é jusnaturalista, não é francês (DeMaistre). Em particular Louis de Bonald atacou o liberalismo e a democracia por fazerem coincidir o horizonte político e moral, ou seja, fez uma apologia de uma concepção metafísica clássica contra a subversão metafísica liberal. E no entanto HR apresenta-nos uma história de bons (jusnaturalistas) e maus (historicistas, vitalistas e outros bandalhos) em que o liberalismo se apresenta como espetacular ponto culminante da existência humana. O que é que está mal neste filme?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Como é evidente, os argumentos que se opõem após a Revolução Francesa não são o reacionarismo positivista contra o liberal direito natural (como HR observa caricatural e boçalmente), mas várias concepções do que é o Natural, ancoradas em visões religiosas ou metafísicas específicas. E o disparate é mais evidente assim que se descobre, com atenção, o pensamento deste fantástico pensador (que já tem uma data de livros escritos). Diz HR que “<span style="color: black; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-language: PT;">A direita anglo-saxónica casou-se com a transcendência do Direito Natural. A direita continental casou-se com a imanência da História. Como sabes, estarei sempre com a primeira. </span>”. Esquece-se apenas de referir que, da direita anglo-saxónica (a confusão entre direita e conservadorismo salta à vista) o único jusnaturalismo que sobrou até ao século XIX foi o liberal. E no século XX nem isso, como provam todas as histórias do conservadorismo de Kirk a Eccleshall. Hayek, Buchanan e até Nozick, assim como os restantes neoliberais do pós-guerra, põem o prego final no caixão do jusnaturalismo liberal clássico, que no século XX não tem um autor que se apresente. Apenas um conjunto de políticos a negociar princípios liberais no domínio da economia. De jusnaturalismo, nem sombra. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Mas pior que este “western spaghetti” da filosofia política é o que HR nos diz sobre o que pensa. Diz que “<span style="color: black; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-language: PT;">O conservador está ligado à ética ou religião do Direito Natural”</span>. Religião do Direito Natural? Percebe-se logo o que isso é… O jusnaturalismo é uma ideia que parte da concepção do cosmos, do sentido do mundo, para determinar o que é lícito e ilícito, o que aproxima e afasta o Homem do seu Ser. HR apresenta o Direito Natural como uma concepção que determina o que é a ética e a religião. Genial! O único problema é que não faz sentido. Uma religião construída para ir ao encontro das finalidades políticas, ao anseio de alguém em ser liberal, é uma forma oposta ao jusnaturalismo, o Positivismo. Ao longo de todo o texto e ao contrário do que seria de esperar num escrito jusnaturalista, nenhum argumento superior ao liberalismo (uma forma política) é aduzido. O HR gosta do liberalismo, aprecia-lhe a “jusnaturalice”, o carácter transcendente. Mas esquece-se que o mesmo origina em concepções que transcendem o próprio liberalismo (é esse o propósito de se ser liberal), senão torna-se o seu inverso. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Foi isso mesmo que Burke escreveu nas suas Reflexões e aparentemente uma das muitas coisas que HR não percebeu na obra. O liberalismo, enquanto conceito autónomo de uma tradição civilizacional, é uma ideia vazia. E o HR defende isto. E o seu contrário.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Leiam o HR para não repetirem os seus disparates.<span style="color: black; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-37124177834587132722013-05-24T00:49:00.000+01:002013-05-24T00:49:04.032+01:00A Insondabilidade do Amor Pós-Moderno<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; tab-stops: 168.0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A Modernidade, assim que transpôs os estreitos muros da racionalidade religiosa e dos pressupostos naturalísticos que a pariram, proclamou a sua capacidade de reformular a organização social segundo os seus próprios cânones. Libertou os afectos dos indivíduos e submeteu-os à interpretação subjectiva, pretendendo não estabelecer padrões de licitude moral nas relações entre os homens. À política (indirectamente através da submissão desta a uma proposta ou autoridade moral) ficou vedada a possibilidade de reflectir sobre as licitudes dos afectos, sobre os fundamentos da vida comum dos que à comunidade pertencem. O igualitarismo fez o resto e homem moderno passou a crer que não só os seus afectos não poderiam ser sindicados pela comunidade, como teriam de ter igual reconhecimento pela comunidade. Como sempre na pós-modernidade as categorias de libertação modernas foram a única coisa que não foi devidamente desconstruída e, por isso, se ficou com um conjunto de figuras conceptuais-espectrais, que denotam o exemplo mais acabado da <em>wasteland</em> moral do nosso tempo. Por um lado, ao estilo do moderno subjectivismo, toda a gente tem “direito a uma família”. Mas também toda a gente tem “direito a definir e procurar o seu modelo de família”. Em suma, toda a gente tem um direito a ter algo que o próprio se ocupará de definir o sentido. Um casal homo-pan-trans-sexual, um agrupamento poligâmico, tem direito a escolher e a ver reconhecida legalmente a sua concepção de família. Mas aqui falta explicar porque é que tem sequer de haver conjugalidade ou sexualidade envolvida. Porque é que a libertação do modelo familiar não pode emancipar-se das concepções de conjugalidade (que no fundo são meras emanações do paradigma religioso) e transformar-se realmente em algo puramente livre? O grupo de <em>swingers</em> da Avenida da Boavista, a comunidade de amor-livre da tenda 4 do Boom Fest, ou o Grupo Excursionista e Recreativo do Parque de Campismo da Costa da Caparica, são aglomerações humanas com tanta dignidade e insondabilidade de afectos como outra qualquer. Deverão ver reconhecida a sua relação, como outras quaisquer, tendo assim possibilidade de casar, adoptar e de ser reconhecidos como núcleo essencial de vida e educação.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; tab-stops: 168.0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Falta explicar uma coisa no meio de tudo isto. Se essas formas de vivência comum são todas lícitas e se não pode escolher entre formas de vida em comum, no que é que a adopção é melhor que a institucionalização das crianças? A solução para as crianças órfãs seria a sua adopção pelas instituições que as acolhem. O que é claramente um contra-senso.</span></div>
O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-292045669693751323.post-43727221324234455042013-05-23T23:26:00.000+01:002013-05-23T23:26:50.362+01:00Liberdade <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; tab-stops: 168.0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><span style="font-family: Calibri;">Tomada pelas concepções modernas, a Liberdade apresenta-se como a finalidade das coisas humanas que anseia pela libertação da vontade individual da vontade do seu semelhante. Um sonho que nas versões protestantes e ideologizadas do liberalismo esconde uma realidade incontrovertível: o preço de toda a liberdade individual é a limitação da mesma aos muros determinados pelo soberano. O protestantismo de Hobbes e Locke acreditava que as coisas da política poderiam ser separadas das concepções religiosas, esquecendo-se de que esta concepção era de origem luterana e que destas crenças supervenientes (derivadas de uma interpretação específica dos textos sagrados), mas tornava este núcleo de crenças secularizadas o núcleo essencial da comunidade política. Esqueceu, porém, que com o protestantismo viria uma concepção de liberdade que permitiria a qualquer indivíduo questionar esses próprios fundamentos. Depois de “um homem, um Papa” do protestantismo, viria “um homem, um Deus” da ideologia. O indivíduo ideológico passa a dispor de si de uma maneira até então nunca vista, passa a poder escolher a norma que o rege e com isso a poder dispor dos elementos conceptuais que até aí sustentavam o anseio da sua libertação individual. No anseio de se libertar o indivíduo liberal proclama a libertação da metafísica, para se prostrar aos pés das vontades do seu semelhante, transformadas em única unidade de conta do político.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; tab-stops: 168.0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A libertação do indivíduo, em todo o seu esplendor, falha ao prometer aquilo que não poderia nunca oferecer. A libertação do domínio do homem pelo homem, que o hipermoderno Marx havia prometido, na linha de toda a Modernidade, reveste-se da falsidade de um sonho que havia sido traçado por filosofias anteriores, com conceitos que foram deixados ao longo da senda libertadora. O erro da viagem foi acreditar que poderia chegar a um destino, em que cada um rasgou para si uma parte de um mapa, incompreensível nas suas fracções. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; tab-stops: 168.0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Toda a liberdade vem da incondicionalidade. O núcleo da comunidade é sempre inegociável. Só nos resta escolher se queremos servir os vivos ou os mortos. Se queremos ser escravos do mundo ou do que neste só está em sombras.</span></div>
O Corcundahttp://www.blogger.com/profile/11101232543591176383noreply@blogger.com0