Vejo com muita tristeza a forma como a direita portuguesa
que não provinda do MFA-Partidos se congratula com os triunfos da FN de Marine
Le Pen, sobretudo porque à dita senhora não se conhece até ao momento reflexão
coerente ou sequer uma leve abordagem a algo mais profundo do que os outros
partidos “catch all”. Marine Le Pen é o exemplo acabado de um floreado linguístico
comunitário que nada significa, nada representa ou apresenta. As vagas
referências patrióticas de Le Pen só podem ser entendidas com um significante:
uma massa unida por normas convencionais de convivência, o elemento
constituinte de uma democracia directa, uma comunidade desprovida de Deus.
Rousseau, Rousseau e mais Rousseau.
A retórica de Marine Le Pen é infantil, porque tenta colar
uma visão vazia à opinião popular. O mesmo argumento que utiliza a favor do
aborto, utiliza contra a eutanásia. Porquê? As sondagens a política democrática
de massas têm destas coisas. No meio de toda uma retórica nebulosa, porque
vazia de argumentos, sobrevivem apenas um conjunto de elementos liberais
contemporâneos, nomeadamente a ideia de que na sociedade francesa e seus
pressupostos modernos seculares existe um guia para toda a ordenação da vida
política. O secularismo serve para manter o Islão aparte, mas também para
sustentar a ideia de que a política sobrevive sem forma religiosa.
Não será necessário acrescentar que o secularismo é a forma
religiosa máxima do liberalismo contemporâneo. Nem que quando por Nação se
entende “povo”, não se está a tratar de nacionalismo, mas de algo que é no
presente tido por insulto. E de algo que tem intenções localizáveis junto do
socialismo e comunismo.
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